Por que tantas mulheres sofrem por amor?
- Laura Basilio
- 14 de set.
- 2 min de leitura

Desde muito cedo, as mulheres são envolvidas em narrativas que colocam o amor romântico como centro da vida feminina. Filmes de princesas, novelas, comédias românticas e até desenhos animados repetem a mesma história: o enredo gira em torno da busca por um parceiro amoroso, como se o grande objetivo da personagem fosse encontrar alguém para casar ou para “completar” a sua vida. Essa construção não é neutra. Ela forma expectativas, sonhos e modos de sentir que atravessam gerações.
A psicóloga e pesquisadora Valeska Zanello resume isso em uma frase que tem ganhado notoriedade: “Os homens são ensinados a amar muitas coisas; as mulheres são ensinadas a amar os homens.” Essa frase revela o quanto, historicamente, as mulheres foram educadas a direcionar sua energia afetiva para o cuidado e para a dedicação a um outro, muitas vezes em detrimento de si mesmas. Por muito tempo, praticamente não havia outros espaços socialmente reconhecidos que dessem sentido à existência feminina para além do matrimônio e da maternidade.
Esse aprendizado cultural não acontece de maneira explícita apenas, mas é transmitido por meio das histórias que ouvimos, das conversas em família, das expectativas de mães, avós, tias, das músicas, dos contos e dos valores repetidos no cotidiano. Trata-se de um ciclo transgeracional no qual meninas crescem acreditando que seu maior objetivo, para serem “completas” e socialmente aceitas, é encontrar e manter um relacionamento amoroso.
Estar casada ou namorando ainda confere, para muitas mulheres, um lugar social diferenciado: o de ser desejada, escolhida, validada. Em contrapartida, não estar em um relacionamento pode ser vivido como um sinal de fracasso ou como se a mulher estivesse “sobrando”. Esse imaginário coletivo atribui valor à mulher pelo olhar do outro, pelo fato de ser escolhida ou não, reforçando um padrão de reconhecimento externo que atravessa séculos.
Quando o amor se torna esse eixo central, a experiência afetiva também se torna fonte de intenso sofrimento. O ideal romântico, alimentado por narrativas culturais, cria expectativas que dificilmente se sustentam na realidade. Relações são complexas, imperfeitas, e nem sempre correspondem ao que foi sonhado. O resultado, muitas vezes, é dor, frustração, sentimento de inadequação ou culpa. Esse sofrimento não é apenas individual; ele reflete um modo de educar e socializar mulheres para priorizarem o outro, para medirem seu valor pelo vínculo afetivo, para internalizarem um ideal que não lhes pertence completamente.
Falar sobre esse tema é um convite para compreender como esse aprendizado coletivo molda subjetividades e histórias pessoais. Reconhecer essas construções não é culpabilizar ninguém, mas iluminar as raízes de um sofrimento que parece íntimo, mas que é profundamente social. É um passo para pensar novas formas de viver o amor e a si mesma fora dos roteiros já prontos.
Se você se identificou com esse texto e quer conversar mais sobre o que sente, eu ofereço um espaço de escuta e acolhimento para que possamos explorar juntas essas questões.


